Data da assembleia de credores pode ser alterada para discutir proposta feita por Uralkali e Uralchem

Em recuperação judicial desde fevereiro, a Fertilizantes Heringer, uma das maiores empresas de fertilizantes do país, pode acabar em mãos russas. Credoras da empresa brasileira, as fabricantes de fertilizantes intermediários Uralkali e Uralchem firmaram um acordo vinculante com a família Heringer para adquirir o controle do grupo.

Os russos se comprometeram a injetar até US$ 115 milhões (cerca de R$ 475 milhões) na Heringer por meio de um aumento de capital, informou ontem a companhia brasileira. A Uralkali e a Uralchem propuseram pagar R$ 2 por ação.

A divulgação da proposta fez os papéis da Heringer dispararem na B3. Ontem, as ações da companhia subiram 33,2%, encerrando o pregão a R$ 2,53. Na bolsa, a empresa está avaliada em R$ 136,3 milhões.

Ao anunciar o acordo, a Heringer não deixou claro se sócios relevantes foram consultados. Por força de um acordo de acionistas com a família Heringer, a marroquina OCP e a canadense Nutrien têm direito de preferência. Se igualarem a oferta russa, assumiriam o controle da empresa.

Procurado pelo Valor, o advogado Júlio Mandel, responsável pela recuperação judicial, evitou fazer comentários sobre os atuais sócios da Heringer. Atualmente, a família (Heringer Participações) tem 51,5% do capital da companhia, enquanto a OCP possui 10%. A Nutrien é dona de 9,5% das ações. Procuradas, as duas companhias não responderam.

A oferta de Uralkali e Uralchem, que atuam no mercado de potássio e fertilizantes nitrogenados, também pode mudar os rumos do processo de recuperação judicial. Com dívidas de R$ 2 bilhões, a Heringer propôs o pagamento de apenas 20% das dívidas com os credores quirografários (sem garantia), que somam R$ 1,7 bilhão. Da dívida total, a Uralkali tem US$ 58,7 milhões a receber e a Uralchem, US$ 12,8 milhões. Bancos públicos também são credores. O Banco do Brasil tem mais de US$ 60 milhões e o BNDES, US$ 47 milhões.

A assembleia de credores que apreciará o plano de recuperação proposto pela Heringer foi convocada para 23 de outubro. Por ora, a data da assembleia está mantida, afirmou Mandel. Mas a chance de que o encontro seja adiado é grande. “A assembleia pode ser suspensa para debate da nova situação, o que é muito comum”, reconheceu.

De qualquer forma, o plano de recuperação proposto pela Heringer não previa a possibilidade de um aumento de capital. Pelos termos do plano apresentado, a companhia colocaria à venda sete unidades misturadoras de fertilizantes. Pelos cálculos da Heringer, seria possível levantar R$ 315 milhões ao se desfazer dessas fábricas.

Com a proposta de aquisição do controle por Uralkali e Uralchem, talvez não faça mais sentido vender as unidades. Nesse cenário, um acordo com os credores terá de ser negociado, o que poderá resultar num novo plano de recuperação.

Para avançar, os russos – ou canadenses e marroquinos, se exercerem o direito de preferência – terão de encontrar a melhor saída para a compra do controle da Heringer. Em uma delas, Uralkali e Uralchem fariam um aumento de capital no qual injetariam entre US$ 59 milhões e US$ 115 milhões. O valor máximo seria investido caso nenhum outro acionista acompanhe o aumento de capital. Nessa hipótese, os russos ficariam com até 81% da Heringer.

Para fazer o aumento de capital, a Heringer terá de convocar uma assembleia de acionistas para autorizar a transação. Atualmente, capital autorizado da empresa é de 53,8 milhões de ações. O aumento de US$ 115 milhões significaria a emissão de 239,2 milhões de ações.

Como alternativa ao aumento de capital, Uralkali e Uralchem propuseram comprar na bolsa os 51,5% do capital pertencente à família Heringer, também pagando R$ 2. Na sequência, já controlando a empresa, fariam um aumento de capital para injetar até US$ 115 milhões.

Fonte : Valor